PARA QUEM CUIDA

Diálogos para uma educação antirracista

Publicado em: 04/01/2022 às 11h01
Mp12

Por  Edilson da Silva Cruz

A diversidade nos constitui como seres humanos. Somos diferentes e, ao mesmo tempo, iguais, embora as experiências de preconceito e discriminação ameacem nossa formação como cidadãos. A escola deve lidar com isso abrindo-se à escuta de educadores e educandos. Com base nisso, na EMEF Virgílio de Mello Franco, temos tratado do assunto a partir da vivência dos estudantes. Deles partiu a ideia de discutir o racismo e suas manifestações como tema do Trabalho Colaborativo Autoral (TCA) dos oitavos anos.

Iniciamos com a escuta das vivências e logo apresentamos aos alunos personalidades negras, de ontem e de hoje, exemplo de luta pela superação das desigualdades, raciais e sociais: Milton Santos, Lelia González, Marielle Franco, Daiane dos Santos, Carolina Maria de Jesus… Cada um no seu tempo e lugar, foi/é inspiração para uma educação antirracista. Uma dessas personalidades é o jovem Thiago Torres, estudante de Ciências Sociais e youtuber, conhecido como “Chavoso da USP”, pois frequenta a universidade e ostenta seu estilo de ser, se vestir e existir próprio da periferia. Tatuado, com roupas coloridas, óculos escuros, corrente no pescoço, ele desafia o preconceito de quem acha que negros e periféricos não são capazes de chegar à universidade pública ou que, estando nela, devem se adequar aos padrões culturais, sociais e raciais da elite branca. 

Convidamos Thiago Torres para uma roda de conversa com os estudantes, como atividade do TCA. Foi uma tarde de aprendizagem e conscientização. Em círculo, metodologia bem freireana, o “Chavoso da USP” mediou um papo sobre racismo, desigualdade, universidade pública, periferia, pertencimento racial, sempre dialogando com as vivências e demandas dos estudantes. Ao final da atividade, os educandos estavam bastante motivados a seguir estudando sobre o assunto, na perspectiva de uma intervenção social na escola e na comunidade. 

A presença do Thiago Torres mostra que a escola só tem a ganhar quando dialoga com a sociedade, abre-se à escuta dos estudantes e se engaja em projetos pedagógicos que, além de ensinar conteúdos, são capazes de conscientizar sobre nosso papel na sociedade e a necessidade de superar preconceitos e discriminações. Que tenhamos a coragem de encarar nossos medos, superar nossas debilidades e, com ousadia, construir uma escola e uma educação antirracistas. 

 

Diretor

Edilson da Silva Cruz é diretor de escola na rede municipal de ensino de  São Paulo

EMEF Virgílio de Mello Franco. R. Erva do Sereno, 15 – Jd S. Martinho, São Paulo – SP, 08180-010