PARA QUEM CUIDA
VIVÊNCIAS
Por Maria Aparecida da Silva
A equipe do NAAPA DRE PJ solicitou a uma professora que nos contasse sobre as suas experiências com o trabalho remoto em sala de aula, porque afinal essa forma de trabalhar não fazia parte da nossa rotina. Vamos saber como foi?
Imagen: Getty images.
Relato da Professora Maria Aparecida
Sempre gostei de utilizar as novas tecnologias de informação e comunicação em minha prática pedagógica, por mais desafiador que seja trabalhar com elas quando se é uma professora periférica, trabalhando com estudantes periféricos.
No início da pandemia do novo coronavírus, quando as escolas fecharam e migramos para o ensino remoto, pensei que essa “entrada forçada” da educação no ambiente digital poderia trazer novas possibilidades, nos convidando a ser ainda mais criativos do que já temos que ser cotidianamente, dada a natureza do nosso trabalho e as dificuldades estruturais.
Os desafios nesse campo, encontrados durante este período, são conhecidos de todos: a falta de equipamentos e acesso adequado à internet, tanto por parte dos professores quanto dos estudantes, fez com que muitas crianças, adolescentes e adultos não participassem do processo de ensino-aprendizagem: consequências de uma sociedade desigual e excludente.
Mas gostaria de falar daquilo que conseguiu acontecer, apesar das dificuldades, apesar dos tropeços, apesar da miséria, apesar de…
Com aqueles estudantes que conseguiram acessar a plataforma educacional com frequência foi possível manter um contato próximo, via mensagens privadas, dar devolutivas individuais, fazer e refazer atividades após os feedbacks, numa proximidade e agilidade que nunca tinha conseguido no ensino presencial. Obviamente fez falta o contato “olho-no-olho”, os gestos, os sorrisos, mas os vários “emojis” utilizados durante os “chats” ajudaram a cobrir essa parte da comunicação.
O uso de formulários online para realizar atividades facilitou as trocas entre professor-estudante, agilizou as devolutivas, permitiu aos estudantes tentar de novo e corrigir os erros, e ainda forneceu aos professores informação rápida sobre as maiores dúvidas e dificuldades dos estudantes.
Mas o que mais me surpreendeu foi a possibilidade de trocas com outros professores nesse período. Por meio das videochamadas, e-mails, ou conversas por aplicativos de mensagem, conseguimos uma maior aproximação com a professora da Sala de Recursos Multifuncionais, facilitando a produção de atividades adaptadas para que todas, todos e todes estudantes tivessem oportunidade de aprender. O grupo de professores trabalhou em conjunto para discutir com os estudantes o racismo estrutural no Brasil e no Mundo, aprender sobre a luta antirracista e auxiliá-los na produção de vídeos com suas sínteses sobre o tema. Um trabalho que mobilizou muitas mãos e mentes, promovendo a autoria, que permitiu a colaboração, que fez sentido.
Não nos enganemos, nada substitui o contato presencial, humano, amoroso, caloroso, desafiador, no processo de ensino-aprendizagem. As máquinas não irão nos substituir – apesar dos muitos futuros distópicos possíveis – porque nós, seres humanos, somos únicos. Mas as tecnologias digitais, criações humanas, podem facilitar nosso trabalho, auxiliar nossa conexão, ampliar nossas possibilidades.
Que lutemos para construir um futuro em que todas, todos e todes tenham a possibilidade de existir, de ser quem são, de pertencerem, de serem vistos e de ter acesso ao que de melhor nossas sociedades produzem e virão a produzir.
Maria Aparecida da Silva é professora de História na EMEF Estação Jaraguá, Jaraguá, São Paulo.