PARA QUEM CUIDA

A Escola como espaço de experiência e conexão: força mobilizadora do que nos afeta e constitui

Publicado em: 15/10/2021 às 13h47
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Por Alex Benjamim de Lima

A aurora ainda é apenas uma ameaça quando o acender das primeiras lâmpadas das casas pontilham o horizonte disforme, singelamente delineado pela sequência de postes de iluminação pública e seu emaranhado de fios a acompanhar caminhos irregulares e sinuosos. Por eles, os primeiros raios solares apenas revelam o fluxo já constante de transeuntes que partem decididos para mais um dia. Muitos, desterrados em sua própria terra, chegaram na esperança de ficar, outros porém, nutrem o sonho de passar apenas, e poder voltar. No entanto, o fluxo cotidiano é o da luta diária, quiçá conquista da condição de existência/ sobrevivência de si e dos seus.

As horas avançam, o sol desponta e uma nova leva de passantes se envereda pelos mesmos sinuosos caminhos há pouco percorridos por mães, pais, tios, tias, primos, primas, irmãs, irmãos, avós, avôs. Agora, pequeninos ou já crescidos, sós ou acompanhados, em grupos maiores ou pouco numerosos, carregam pacotes de variados tamanhos e formatos. Longe de qualquer linearidade ou equivalência, há os que quase são carregados por eles, os que os carregam sem dificuldade, os que com eles quase se confundem, os que procuram escondê-los, os que os exibem satisfeitos e orgulhosos, os que os carregam visivelmente contrariados. Porém, apesar de, ou a partir de, suas passadas se coadunam na expectativa da chegada, que também é a do por vir.

 

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Imagem: Alex Benjamim de Lima

O tempo se esvai e partindo de pontos longínquos ou mais próximos, o local do encontro, ou chegada, marca a passagem a um tempo-espaço distinto da caminhada empreendida até ali, em que expectativa e ânsia pelo novo e desconhecido embevecem percepções, olhares, sensações e sentimentos a romper qualquer embotamento ainda persistente. Gritos, zoadas, assobios, corridas desenfreadas, risos incontidos, palavras, muitas palavras, uma profusão quase ensurdecedora, também incompreensível, mas passível de tradução a lentes menos desatentas e insensíveis: verve em estado puro, cristalina e pulsante.

Um verdadeiro mosaico humano se estabelece, latitudes e longitudes entrelaçadas, diversidade de cores, jeitos e trejeitos, denunciam em profusão conexões não premeditadas de tempos e espaços incomensuráveis, herdeiros e depositários imemoriais da jornada humana.

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Imagem de StockSnap por Pixabay

Num rompante, a objetividade se impõe, arregimentando corpos e mentes ao sincronismo racionalizante, quase litúrgico, do espaço monumento. Pauta, tempo e espaço sincronizados ao diapasão pré configurado e universalizante, elixir que há séculos impõe forma, sentido e conteúdo às chaves da apreensão e decodificação de si e do mundo.

Arregimentados, cada um a seu espaço fim, sob a pretensa equivalência etária, estão enfim aos cuidados e mediação daquele que será o responsável por abrir portas e desvelar novos caminhos.

À frente de seu grupo, é acompanhado atentamente por olhares curiosos e encantados, alguns ainda tímidos, mas inegavelmente eufóricos e ansiosos com o por vir. Seu poder é imenso, contudo insuficiente por si para avalizar sucesso. É preciso mais. É preciso ir além. É preciso baixar a guarda enrijecida da objetividade e valorizar e cultivar os afetos, subjetividades individuais, conectivas e propulsoras do que nos constitui sujeitos do e no tempo.

É preciso enxergá-los. Eles estão lá, são muitos. Foram trazidos por seus proprietários, pequenos grandes detentores de seus pacotes história-memória-trajetos-sonhos-desejos-afetos, constituintes , em suma, de tudo que lhes afeta, constitui e mobiliza. Negligenciá-los significa desconsiderar espessas camadas da experiência humana, encerrando-as num mutismo que deforma e tolhe caminhos e possibilidades.

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Imagem de Pexels por Pixabay

O espaço monumento escola, ao constituir-se em espaço de encontro da diversidade e da polissemia, transforma o processo de apropriação da cultura historicamente acumulada em experiência de conexão e representação, idade, força mobilizadora do que nos afeta e constitui.

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Imagem: Alex Benjamim de Lima

 

Alex Benjamim de Lima – Professor de História – NAAPA/SME

 

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