PARA QUEM CUIDA
O exercício da docência: um olhar que se conecta com o outro
Por Márcia Andréa Bonifácio da Costa Oliveira
O exercício da docência nos possibilita olhar para o mundo a partir de múltiplos olhares. Cada criança, adolescente, jovem e adulto que passa por nossa existência como professores tingem nosso mundo com infinitas cores e tecem, em nós, fios de histórias que irão compor nossas diferentes formas de ocupar o mundo.
Mas a beleza da docência vai para além das experiências pessoais e se constitui no movimento contínuo das conexões que realizamos nas vivências com nossos parceiros de trabalho e na observação do mundo que nos cerca. Somos marcados pela dor, alegria, esperança, medos, convicções, encontros, encantamentos, inseguranças, sonhos, ternuras, desalentos e por incontáveis sensações que imprimem em cada um e em nossos coletivos a experiência de ser professor/professora.
Imagem: Gordon Johnson
Foi assim que a Professora Maria imprimiu parte de sua experiência profissional em mim. Os últimos anos de sua docência foram dedicados ao trabalho na Classe Hospitalar de uma Instituição voltada para o apoio à criança e ao adolescente em tratamento de câncer. Acompanhados por alguém da família, eles se deslocam de diferentes partes do país para o tratamento de saúde, experiência marcada pelo desafio de encontrar modos de existir para além do câncer.
Foi em um desses momentos em que viver e aprender se tornam indissociáveis, que Maria protagonizou um dos mais belos encontros da docência com o apelo da vida. Ao saber que uma das residentes da casa de apoio seria submetida a um procedimento invasivo, que lhe privaria para sempre da possibilidade de enxergar, a professora não hesitou. Fez do mundo sua sala de aula!
Organizou uma atividade externa em que a experiência das cores, dos sabores e das texturas permeou aquele encontro único entre ela e a adolescente. Como um artista que imprime na tela as cores que já nasceram dentro dele. Assim, Maria pintou de cores aquele encontro, certa de que as marcas daquele dia seriam para sempre impressas na memória afetiva daquela estudante.
A professora sabia que a força das cores e os movimentos do mundo não poderiam mais ser captados pelos olhos da jovem menina, mas reconhecia na força daquele encontro um lugar seguro para que a garota pudesse viver seus momentos de escuridão.
Imagem: Daniel Hannah
Márcia Andréa Bonifácio da Costa Oliveira é professora de Matemática e coordenadora do NAAPA/SME