SE LIGA!
Por Rodrigo Hissashi Tsuzuki
Relato de Experiências
A adolescência já é uma confusão de emoções. No período da pandemia os sentimentos ficaram intensos: entre a euforia e a tristeza, os estudantes de uma escola, aqui da região do Butantã, nos pediram ajuda.
Os adolescentes e o Coordenador Pedagógico da EMEF Júlio Mesquita relataram suas experiências com a atividade desenvolvida pelo NAAPA com rodas de conversa e práticas corporais.
O ano de 2021 foi muito difícil. A pandemia fez com que a angústia se tornasse um sentimento muito presente no nosso cotidiano, tanto na vida pessoal como profissional. A angústia de dar uma aula para menos de 10 estudantes; de ver apenas telas e não rostos; de falar e não ouvir respostas; de não saber onde estão os outros e nem como eles estão!
Percebemos que o ensino remoto, somado à desigualdade de acesso às tecnologias digitais e à internet, fez com que o vínculo com a escola ficasse muito fragilizado para a maior parte dos estudantes. Mesmo com a volta gradual do ensino presencial, muitos deles não se sentiam motivados ou haviam desaparecido…
Na tentativa de restabelecer esse vínculo, pensamos em muitas ações, sendo uma delas o projeto “Fala Estudante”, criado pelos professores e professoras da escola visando “dar voz” aos nossos estudantes e promover encontros mais atrativos. Em um desses encontros, tivemos a oportunidade de firmar uma parceria com o NAAPA, onde pudemos tratar justamente do sentimento que estava tão presente, mas era tão pouco falado: a angústia.
Nesse encontro, mais do que falar sobre a angústia, tivemos a oportunidade de escutar relatos muito potentes e que acenderam um alerta sobre a saúde emocional dos nossos estudantes. Esse foi um ponto de partida para uma série de ações que ainda estão em desenvolvimento, envolvendo os estudantes, o corpo docente, a equipe do NAAPA e as famílias para pensar, discutir e elaborar estratégias para promover a saúde mental e emocional de todos!
Mesmo em 2022, essas ações se fazem necessárias e foram incorporadas dentro do plano de ação no PPP da escola. Esperamos fortalecer essa parceria e tornar as questões de saúde mental e emocional um dos focos de projetos permanentes.
Relato de Experiências dos Estudantes
Por RAYANNE DE LIMA MUNIZ e BRIAN THOMAS SIQUEIRA DIAS
– [O encontro] foi bom porque tem muita gente que não consegue se abrir sobre esses assuntos [ansiedade, depressão, angústias], mas acaba se abrindo nessas horas. Isso faz você ficar mais leve.
– Tem muitos pais que não aceitam ou não querem aceitar que os filhos têm depressão ou crises de ansiedade. Acham que é frescura ou que é preguiça. Mas nós sentimos necessidade de nos abrir com alguém e às vezes não dá para fazer isso em casa. Para muitos é difícil até se abrir com amigos.
– E não precisa nem ser alguém com depressão, às vezes a gente tem várias angústias que ficam guardadas, mas que precisam ser divididas. Deve ter muita gente mal, mas que por fora “tá tudo bem”. Só que não tá tudo bem.
– Na escola, as meninas parecem conseguir dividir mais facilmente essas angústias, mas nem todas. Mas os meninos não parecem que tem essa abertura, porque ainda tem essa coisa de que macho não chora e que ser mais sentimental é coisa de menina. A escola precisa de mais espaços que permitam essa abertura.
Rodrigo Hissashi Tsuzuki é coordenador pedagógico na EMEF Júlio Mesquita – DRE Butantã.